O teu gato sofre de ansiedade de separação?
Com a chegada do calor começamos a pensar em férias e, invariavelmente surge a preocupação: “E o meu gato? Como é que ele se vai sentir sozinho? Será que vai ficar bem”. A ansiedade de separação manifesta-se frequentemente em muitos gatos, afetando o seu bem-estar e, em casos mais extremos, a sua saúde. Com este artigo queremos ajudar-te a perceber se o teu gato demonstra sintomas de ansiedade de separação e dar-te algumas dicas que poderão contribuir para o seu bem-estar.
Imagem: Emilia Niedzwiedzk, Unsplash
Especialmente depois de dois anos com confinamentos e teletrabalho, enquanto alguns gatos contavam os minutos para ver os seus tutores sair para poderem ter a casa toda só para si e poderem relaxar e estar à vontade, outros tornaram-se mais dependentes da sua família humana. Há que sublinhar que a ansiedade de separação não afeta apenas os gatos, ou os animais de companhia no geral, mas também os tutores. Sabendo que o nosso gato poderá estar em casa a sentir-se sozinho e frustrado, provavelmente sem apetite ou outros sintomas que poderão, a médio/longo prazo, ter consequências negativas na sua saúde, acabamos nós próprios por desenvolver ansiedade derivada da preocupação e entrar até num processo de culpa.
Alguns sinais de que o teu gato possa sofrer de ansiedade de separação:
Alteração nos padrões urinários
Se o teu gato está treinado para utilizar a caixa de areia e reparas que começa a urinar noutros espaços da casa, nomeadamente na tua cama ou na da pessoa da casa a quem está mais ligado, não o repreendas. Este comportamento pode estar relacionado com uma causa física – sintoma de doença do trato urinário – ou psicológica – ansiedade. Um estudo indicou que 3 em cada 4 gatos que urinam fora da caixa de areia, fazem-no exclusivamente na cama dos seus tutores.
Limpeza excessiva
Se começas a notar que o teu gato se limpa excessivamente, especialmente no caso das fêmeas, podes ter identificado mais um sinal de ansiedade. Nalguns casos, devido ao stress e à ansiedade, os gatos podem lamber-se ao ponto de ficar com falhas de pelo em determinadas zonas do corpo.
Outros comportamentos estranhos e destrutivos
- Adotar um comportamento destrutivo (especialmente em machos). Alguns gatos podem usar a destruição de objetos pela casa como forma de exteriorizar a sua frustração e stress;
- Miar excessivamente ou uivar e chorar enquanto carregam o seu brinquedo favorito na boca;
- Seguir-te para todo o lado quando estás em casa;
- Receber-te com mais entusiasmo do que o habitual quando voltas para casa;
- Alterar os hábitos alimentares – falta de apetite ou apetite excessivo;
- Vomitar comida ou pelo;
- Andar inquieto pela casa ou tentar fugir.
Como minimizar a ansiedade de separação do teu gato
Para ajudares o teu gato a lidar com a sua ansiedade, acima de tudo precisas de ser paciente, compreensivo e dar tempo ao tempo. Tenta tranquilizar-te r passar pelo processo com ele. Temos a certeza de que saber que o teu gato não está a conseguir gerir a tua ausência também te deixa ansioso e preocupado, e esse estado emocional é facilmente captado pelo teu gato, e será mais um fator a contribuir para o seu mal-estar.
“Dessensibilizar” a partida e a chegada
Muitas vezes, os últimos minutos antes de saíres de casa são marcados por abraços, beijos e declarações de amor incondicional. É ou não é verdade? Em primeiro lugar temos de interiorizar que quando temos este tipo de comportamento estamos a fazê-lo mais pelo nosso bem do que pelo deles e, sem nos apercebermos, estamos a acrescentar uma carga emocional à despedida muito mais forte do que seria saudável. Sair discretamente irá causar muito menos frustração ao teu gato.
O mesmo se aplica à chegada a casa. Dá-lhe atenção apenas quando ele se acalmar. Avisamos-te já que vais precisar de toda a tua força interior para resistir.
Se vais regressar ao trabalho presencial ou se te vais ausentar por um período de tempo longo, começa por sair de casa por períodos curtos com aumentos graduais para não ser uma mudança de rotina demasiado repentina.
Se vais viajar, experimenta levar a bagagem para o carro ou para a garagem um ou dois dias antes para que o teu gato não sinta demasiada agitação e movimentação pela casa pouco habitual muito perto do momento da partida.
Ignorar comportamentos de chamada de atenção
Dá mais atenção ao teu gato quando ele está calmo do que quando está a exigir a tua atenção. Privilegia premiar um comportamento positivo em vez de alimentar um comportamento menos saudável.
Um exercício de relaxamento que podes praticar com o teu gato:
Oferece-lhe uma guloseima de que goste muito quando está num estado relaxado – deitado, com uma postura descontraída, a dormitar – e associa um objeto como, por exemplo, uma manta ou um tapete, a este exercício para que, com o tempo, o teu gato comece a associar uma sensação de relaxamento quando vê esse objeto. Antes de te ausentares deixas-lhe esse objeto para que ele sinta que é um momento de tranquilidade e não de frustração. Podes, progressivamente, simular durante este exercício, comportamentos típicos de quando te preparas para sair de casa e, quando perceberes que o teu gato se mantém calmo durante o exercício, ausentares-te efectivamente, para avaliar a sua reação.
Enriquecimento ambiental
Arranhadores com plataformas próximas de janelas, brinquedos, televisão ligada, snacks escondidos pela casa, comedouros interativos…tudo o que possa servir para distrair o teu gato enquanto estás fora de casa ou a preparar-te para sair é uma ótima aposta. Quanto mais tempo se mantiver ocupado, menos tempo passará focado na tua ausência.
Socialização
A visita de um familiar, um amigo ou até mesmo de um pet sitter uma ou mais vezes por dia, especialmente em períodos de ausência prologada como férias ou viagens de trabalho, contribuem muito para distrair o teu gato e não deixar que se sinta sozinho e esquecido. No dia-a-dia, se viveres próximo do teu local de trabalho, podes aproveitar a hora de almoço para passar algum tempo com ele e brincar ou relaxar juntos.
Suplementos e snacks calmantes
Existem várias soluções no mercado de suplementos, biscoitos e até difusores que podem ajudar o teu gato a relaxar. Neste caso, procura primeiro uma opinião junto da clínica veterinária onde o teu gato é acompanhado para perceber qual será a melhor opção para ele e, sempre que possível, evita medicamentos, de forma a evitar ao máximo efeitos secundários indesejados.
Qualquer que seja a mudança no comportamento do teu gato ou o nível de ansiedade de separação que acreditas que ele está a sentir, consulta sempre a clínica veterinária que o acompanha. As alterações comportamentais dos nossos animais de companhia devem ser sempre valorizadas pois podem ser sinais importantes de mal-estar ou até mesmo de condições de saúde mais sérias.
Lembra-te sempre que a tua serenidade e bem-estar estão intimamente relacionados com a serenidade e bem-estar do teu gato. Procura criar um estilo de vida tranquilo e saudável para que ambos levem vidas mais longas e felizes.
Fontes:
Vitale K, Behnke A, Udell M. Attachment bonds between domestic cats and humans. Current Biology. 2019: 29(18).
Schwartz S. Separation anxiety syndrome in cats: 136 cases (1991-2000). JAVMA. 2002: 220(7); 1028-1033.
Schwartz S. Separation anxiety syndrome in dogs and cats. JAVMA. 2003: 222(11); 1526-1532.
PetMD; The Catnip Times
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